A
vespa Polybia paulista se protege contra predadores produzindo um
veneno conhecido por conter um ingrediente poderoso contra o câncer.
Um
estudo publicado nesta terça-feira (01/9) no Biophysical Journal revela
exatamente como a toxina do veneno, conhecida como MP1 (Polybia-MP1),
seletivamente mata as células cancerosas sem danificar as células
saudáveis.
O MP1 interage com lipídios que são
anormalmente distribuídos na superfície das células de câncer, criando
buracos que permitem que moléculas cruciais vazem.
“Terapias
contra o câncer que atacam a composição lipídica da membrana da célula
farão parte de uma nova classe de drogas anticâncer”, diz, em
comunicado, o autor do estudo Paul Beales, da Universidade de Leeds, no
Reino Unido.
“Esse estudo poderá ser útil para
desenvolver novas combinações de terapia, em que múltiplas drogas são
usadas simultaneamente para tratar o câncer atacando diferentes partes
das células cancerosas ao mesmo tempo”, completa.
Uso clínico
A
toxina age contra agentes microbianos maléficos por ruptura da membrana
celular bacteriana. O antimicrobiano se mostra promissor para proteger
humanos contra o câncer, e ele pode inibir o crescimento da próstata e
câncer de bexiga, bem como células de leucemia resistente a múltiplas
drogas.
Até agora, no entanto, não estava
claro como a toxina da vespa destruiria seletivamente as células
cancerosas sem danificar as normais.
Beales e o
brasileiro João Ruggiero Neto, da Universidade de São Paulo (USP),
suspeitam que ela pode ter algo a ver com as propriedades únicas das
membranas celulares.
Nas membranas de células
saudáveis, os fosfolipídios são encontrados na membrana interior da
célula. Em células cancerosas, no entanto, esses compostos ficam
incorporados na célula e se localizam na membrana externa da célula.
"Formados
em apenas alguns segundos, esses grandes poros são grandes o suficiente
para permitir que as moléculas críticas, tais como o RNA e proteínas,
possam escapar facilmente das células”, diz Neto, em comunicado. Segundo
ele, a melhoria da permeabilidade das membranas foi surpreendente.
Em
estudos posteriores, os pesquisadores planejam alterar a sequência de
aminoácidos da toxina da vespa para examinar como sua estrutura pode se
transformar em usos clínicos.
“Entender o
mecanismo de ação desse peptídeo vai ajudar outros estudos a avaliar
ainda mais o potencial dele, podendo assim, ser utilizado na medicina”,
diz Beales.
Por ser uma toxina seletiva, que
ataca as células cancerosas e não as células normais, esse peptídeo tem
potencial de ser seguro, mas outros estudos serão necessários para
provar isso.
0 Comentários