É normal a criança com até um ano morder outras
crianças, pessoas, a si própria e o mundo ao seu redor. Ela explora tudo
e a todos utilizando-se principalmente da boca, sua primeira via de
acesso ao mundo, a começar pelo peito da mãe. E aos poucos ela vai
aprendendo de si e do mundo afinal, a criança não nasce com a noção de
que ela é ela, de que nós somos a mãe ou o pai, que o cachorro é um
cachorro ou que o sofá é um móvel para sentar. Isto e muito mais ela
terá que aprender e assim fará mediante a sua interação com o meio, do
qual fazemos parte. E a boca, a princípio, a ajudará muito nesta
empreitada. Assim, a criança pequena vai começar a ter noção de si, do
outro e do que está ao redor a partir das experiências. Imagine que tudo
está misturado ao nascer, um amálgama completo, e a criança terá que
definir naquela massa, o que é cada coisa e cada um, bem como as
relações entre eles. Ela joga a bola e ela rola. Ela joga o dado e ele
não rola como a bola. Ela puxa a toalha da mesa e cai um mundo de coisas
sobre ela. Ela engatinha até a escada, a mãe berra e a tira de lá. Ela
morde o colega e ele chora. Ela morde-se e também chora. E assim vai,
paulatinamente, desamalgamando, dando nome a cada coisa e cada ser,
diferenciando-os e se diferenciando de tudo e de todos. Mas isto leva
tempo e diz também do desenvolvimento do sistema nervoso e dos estímulos
vindo do meio. Abrindo parênteses… Coloque uma criança de menos de um
ano na frente do espelho com um risco de batom em seu rosto. Observe a
sua reação. É como se ali tivesse outra pessoa. Ela não se reconhece.
Ela ainda não se diferencia da massa. Ao fazer o mesmo com uma criança
um pouco maior, verá que sua reação será totalmente diferente. É
provável que ela leve a mão no risco de batom e ache graça. Já se
reconhece, já começa a perceber a sua existência.
E o morder?
O ato de morder pode ocorrer por vários motivos. Para aliviar a coceira
na gengiva quando os dentes nascem, para descarregar alguma tensão,
para brincar ou simplesmente para explorar o mundo. Mas, olhe que
interessante. O morder ajuda a criança a ir se diferenciando da massa.
Sim, mordo, logo existo. Ao morder a si mesma, a criança percebe que dói
e vai tomando consciência de si. Ao morder o outro, percebe que não dói
e vai tomando a consciência de que existe o outro. E assim faz com o
mundo também. Não tem a intenção de machucar, mas machuca ou é
machucada. Aliás, a criança nesta idade não sabe ainda o que é certo ou
errado, o que machuca ou não. Nem seu sistema nervoso está pronto, nem
as suas construções garantem tamanho suporte. Mas o meio (do qual
fazemos parte) precisa ir proporcionando este desenvolvimento. Afinal,
morder machuca. E, se o seu filho voltou mordido do berçário, sinto
muito, faz parte. Ele também morderá. Mas atenção! Uma criança que morde
demais e continua a crescer mordendo já não é normal. Neste caso, o
morder é a ponta do iceberg. Corra para perceber o que oculta, o que faz
o seu filho agir assim, pois diferenciar seres e a si pela mordida tem
um prazo curto. E assim deve ser.
r REDAÇÃO: SÃO FELIPE NEWS
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