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(Foto: Alunos de séries diferentes dividem a mesma sala de aula na Escola Estadual Indígena Itapó, da tribo Karapotó Plak-ô - CRÉDITO: Arquivo/Jonathan Lins/G1) |
No
Brasil, a carreira de professor está se tornando uma passagem, um
momento de transição para outras funções. O profissional fica no
magistério somente até conseguir um cargo mais bem remunerado e
provavelmente menos estressante.
Prova disso é que
25% dos docentes brasileiros têm menos de 30 anos e apenas 12% estão com
idade acima de 50, bem diferente do que ocorre em outros países. Aqui, o
professor ingressa no magistério ainda jovem, mas em poucos anos, deixa
de ver perspectivas.
A baixa remuneração
é a gota d’água num contexto desastroso, que combina elementos como
superlotação das salas de aula, aumento da indisciplina e do desrespeito
pelos mestres, indiferença das famílias e desprestígio social da
profissão, falta de estrutura e de recursos nas escolas e o próprio
despreparo dos professores para lidar com os desafios educativos de
hoje.
Esse quadro tem como primeira consequência o chamado “mal-estar docente”: cada
vez mais professores adoecem com problemas psicológicos associados a
estresse, exaustão emocional, depressão, cansaço crônico e frustração.
A categoria está entre as mais sensíveis à síndrome de burnout.
São profissionais que entram na educação movidos pelo desejo de mudança
social e lidam diariamente com o desalinhamento entre o sonho e a
impossibilidade de alcançá-lo, entre a impotência diante do sistema de
ensino e a cobrança da sociedade.
Por exemplo, no
Distrito Federal, só no primeiro semestre de 2014, foram emitidos 16,4
mil atestados médicos para professores da rede pública – o que significa
mais da metade dos 32 mil concursados. Esses dados se repetem pelos
estados e municípios brasileiros.
A segunda
consequência é a perda de talentos, uma vez que muitos dos profissionais
acabam aceitando propostas de trabalho em outras áreas.
No Brasil, faltam
150 mil professores em disciplinas como química, biologia, física e
matemática. No total, estima-se que haja carência de 300 a 400 mil
professores nas salas de aula. A solução para que os alunos não fiquem
sem fazer nada é recorrer a profissionais sem a devida formação. De
acordo com o Censo Escolar 2013, o Brasil tem quase meio milhão de
professores ativos sem diploma de graduação, o que equivale a 21,9% do
total de 2 milhões de docentes.
Esse cenário
funciona como barreira de entrada para novos talentos. Uma pesquisa da
Fundação Carlos Chagas mostrou que apenas 2% dos jovens brasileiros
querem ser professores. É justamente o oposto do que ocorre na Coreia do
Sul, país que lidera os rankings da educação, onde a profissão é tão
disputada que fica restrita aos jovens que mais se destacam nos estudos.
É extremamente preocupante constatar que muitos dos calouros
brasileiros que optam pela carreira de professor são aqueles que não
teriam chance de cursar o ensino superior em outras áreas.
Por: Andrea Ramal em g1.globo.com
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