População e turistas da Ilha de Boipeba e Morro de São Paulo sofrem sem água e luz

A população da ilha de Boipeba e do Morro de São Paulo, que fazem parte do Arquipélago de Tinharé, em Cairu, no baixo sul, vive dias de tormenta por conta da falta de água e energia que afeta as ilhas na alta temporada e agora está mais intenso. O problema mais grave é relativo ao abastecimento de água, com mais intensidade em Boipeba, onde nativos e turistas não veem o líquido jorrar das torneiras há oito dias.

Morro de São Paulo também tem problema com a falta de água. Em Boipeba, a falta de água faz pousadas perderem hóspedes e reservas. As que ainda têm água estão racionando, o que tem irritado turistas. Restaurantes atuam no limite com reservatórios próprios e também fazem economia. Muitos estão recorrendo à compra de água mineral até para tomar banho.

Algumas pousadas, já prevendo que a situação iria ocorrer, resolveram investir na perfuração de poços artesianos, investimento que chega a mais de R$ 20 mil. Por causa do problema, moradores de Boipeba resolveram trancar o reservatório da Embasa, estatal responsável pelo abastecimento, nesta quarta-feira (2), depois de tomar a chave de um funcionário. A devolução ocorreu nesta quinta-feira, após uma negociação segundo o Correio da Bahia.

A Embasa informou que a falta de água em Boipeba ocorre devido a quedas no fornecimento de energia por parte da Coelba (empresa concessionária), que atribuiu as interrupções do sistema à sobrecarga na rede elétrica devido ao fluxo de turistas. Durante o verão, o Arquipélago de Tinharé, composto pelas ilhas de Boipeba e Tinharé, onde estão os povoados de Morro de São Paulo, Gamboa, Garapuá e Galeão, recebe a maior parte dos cerca de 300 mil turistas que frequentam o local no resto do ano.

Isso faz com que Cairu, de pouco mais de 17 mil habitantes, triplique sua população nesse período, sobretudo em final de ano. O mais procurado é Morro de São Paulo, terceiro destino turístico da Bahia – Salvador e Porto Seguro lideram. Em Morro de São Paulo há 12 mil leitos em 220 estabelecimentos para hospedagem e 125 bares e restaurantes, com geração de 4 mil empregos -- a maioria dos trabalhaores moram na Gamboa.

No final de 2018 a lotação chegou a 95%, segundo estimativas da Secretaria do Turismo do Estado (Setur). De acordo com a Embasa, as ilhas de Boipeba e Tinharé, onde há 1.218 ligações de água, entre residências e estabelecimentos comerciais, possuem consumo médio normal, por pessoa, de 104 litros de água ao dia durante o ano.

E quando chega o verão, em Boipeba, o consumo eleva 70%, enquanto em Morro de São Paulo é mais que o dobro no mesmo período, o que faz os valores das contas de água serem maiores que as de energia elétrica. Boipeba é abastecida por dois poços que chegam a 200 metros de profundidade. Um terceiro está sendo montado, informa a Embasa.

O reservatório de Boipeba tem capacidade para 150 mil litros de água e o de Morro de São Paulo 300 mil. Devido à alta demanda em Morro de São Paulo, o abastecimento é proveniente do riacho da Gamboa, com reforço de quatro poços. Em todos os casos, a água utilizada é devidamente tratada antes da distribuição, segundo informou a estatal.

Muito cloro
Mas mesmo com tratamento, a água não é considerada de qualidade por moradores como Vera Rocha, gerente da Pousada Velha Boipeba. “A água da Embasa tem excesso de cloro, não dá para beber”, ela disse, mas com saudade do líquido. Na Velha Boipeba, cinco reservas já foram canceladas por conta da falta de água.

A pousada tem uma cisterna cuja água está sendo usada de forma racionada “Avisei aos turistas sobre a situação e resolveram cancelar. Perdemos mais de R$ 5 mil”, afirmou. “Mas ainda tiveram outros dois que ainda vieram mesmo assim. Eles estão tomando banho de balde, assim como todo mundo aqui na pousada”, informou a gerente, segundo a qual a Velha Boipeba está com 28 hóspedes, metade da lotação.

“O problema sempre ocorre final de ano, fazemos racionamento, mas nunca chegou a ficar numa situação dessas, zerado. Temos 14 anos de pousada. A gente não tem satisfação de nenhuma autoridade, ninguém assume a responsabilidade”, criticou. Oriunda de Rosário, na Argentina, a administradora de empresas Eliana Lisandra Lopez, 35, está em Boipeba há cinco dias e disse que a falta de água incomoda.

“Estou usando pouca água, e não temos certeza se ainda teremos nos próximos dias, já quero ir embora”. O paulista Paolo Silveira, um programador de computadores de 27 anos, afirmou que nunca passou por situação parecida. “Vim pra cá achando que tinha água em abundância, mas pelo jeito é só água salgada, amanhã vou pra Salvador”, comentou.

No restaurante Toca do Lobo, proprietários economizam a água de um reservatório de 10 mil litros. “Ano passado teve esse problema, mas foi bem menos”, disse a dona Ione Lobo. “Por enquanto, estamos conseguindo atender aos clientes normalmente”. Gerente do Hotel Vila da Barra, em Boipeba, Jackson Fernandes critica o fato de a Embasa não ter uma bomba reserva para manter o funcionamento em caso de problemas.

“Não há planejamento algum para atender turistas no verão, todo ano é isso”, disse. Em Morro de São Paulo, a falta de água levou os donos do Amendoeira Hotel da Vila a perfurar um poço artesiano em plena praça Aureliano Lima, localizada no centro do povoado. A presença dos equipamentos deixou muita gente assustada.

“Foi o jeito que tivemos de dar para não ter esse problema da falta de água esse ano, por enquanto estamos tendo água. Investimos R$ 22 mil para fazer o poço e estamos atendendo tranquilo aos nossos hóspedes”, afirmou o empresário Cosme Silva. A falta de água no hotel, segundo o empresário, fez com que seu estabelecimento ficasse mau falado na internet, em sites de turismo.

“Teve gente que me processou nas pequenas causas por não ter água e nem energia no hotel”, ele disse. Com o poço artesiano, ele deve ficar livre das contas de água, que ultrapassam os R$ 2 mil. Mas ainda está tendo dor de cabeça com o fornecimento de energia elétrica que afetou tanto Morro quando Boipeba no final de 2018. (CORREIO DA BAHIA)

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