No registro de nascimento de Jenifer Monteiro, 10,
constam apenas os sobrenomes da família materna. O caso da garota não é
isolado: 71.344 estudantes de escolas estaduais da Bahia não têm a
paternidade reconhecida oficialmente. O número corresponde a 8% dos
quase 900 mil alunos que compõem a rede hoje. A estatística, elaborada
pelo Núcleo de Promoção da Paternidade Responsável (Nupar), do
Ministério Público do Estado da Bahia (MP-BA) – que oferece exames de
DNA gratuitos para reconhecimento de paternidade de famílias de baixa
renda –, aponta que, na rede municipal, cerca de oito mil do total de
140 mil alunos também não têm o nome do pai no registro. De acordo com a
promotora de justiça do MP-BA e coordenadora do Nupar, Joana Philigret,
os números revelam que o não reconhecimento desses jovens e crianças
pelo pai biológico é muito mais que um problema familiar: é, também, uma
questão social. “Todo mundo tem o direito de saber de onde veio. Por
mais que não exista mais a conjugalidade entre o pai e a mãe, a
parentalidade nunca se extingue. Ou seja, o pai é responsável pela
criança e deve assumi-la como tal, independentemente de como sejam as
relações familiares”, disse. Não saber ao certo a identidade do pai
biológico traz prejuízos não só emocionais ou psicológicos para estas
crianças, mas também jurídicos: Jenifer não pode usufruir de direitos
básicos da condição de filha, como, por exemplo, receber pensão
alimentícia ou requerer uma possível herança. Ter o nome registrado na
documentação não garante que o pai seja uma referência paterna para a
criança, no entanto, segundo a promotora, assegura que o filho possa
reivindicar o direito de conhecer a família paterna, conviver com os
entes e, sobretudo, requerer qualquer patrimônio que possibilite que a
criança ou jovem viva de forma digna. “Ser pai é muito mais que ter um
nome na certidão de nascimento. É assumir o compromisso de zelar pelo
bem-estar da criança”, completou a promotora.
Regularização
Pouco
a pouco, mães e pais têm percebido a importância da regularização
desses registros de nascimento, seja para requerer pensão alimentícia ou
simplesmente para garantir ao filho o acesso à família paterna. A
prova disso está nas estatísticas do MP-BA: os dados revelam que a busca
pela inclusão dos nomes paternos nas certidões de nascimento aumentou
quase 200% nos últimos oito anos. Em 2008, o órgão atendeu a 4.887
solicitações; em 2016, este número subiu para 14.639 atendimentos. Com a
solicitação para a realização do exame de DNA em mãos, Wilza Américo
Sena, 38, mãe do pequeno Emanuel, de 2 anos, pretende, finalmente,
registrar o garoto, que é o caçula de outros nove filhos. Ela aguardava
reencontrar o pai do menino para que ele não fosse registrado somente
com o sobrenome da família materna. Embora não tenha pretensão de
reivindicar a pensão alimentícia devida pelo pai, ela quer que o garoto
possa ter uma convivência sadia com os familiares paternos. “Não tenho
mais nenhuma relação com o pai dele. Inclusive, já tenho outro
companheiro, que trata Emanuel como filho e o sustenta. Porém quero que
ele saiba quem é o verdadeiro pai dele e que isso seja documentado e
oficializado perante a Justiça”, afirmou. O pai do menino, Júlio Bispo,
36, não se opôs a fazer o DNA, no entanto, afirmou temer pelo resultado
do exame. Segundo ele, caso seja, de fato, pai de Emanuel, não terá
condições de arcar com as despesas do garoto. “Estou desempregado, não
sei como vou pagar a pensão, mas vou fazer de tudo para que meu filho
não passe necessidade”, disse.
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