
Ele escolheu as trabalhadoras da limpeza urbana e se
baseou em depoimentos e fotos de colegas. Chorou ao receber nota dez dos
três professores que compunham a banca. Na terça-feira, 27, colou grau,
mas só convidou parentes e amigos na última hora.
“Sempre me preocupei primeiro em pagar a escola dos meus filhos. Não acreditava que o Fies (Fundo de Financiamento Estudantil) seria possível para mim pelas exigências do programa”, justifica.
Foi em 2006 que Diniz foi aprovado em concurso da
Companhia Municipal de Urbanização de Goiânia (Comurg) e se dedicou à
jardinagem.
“Passei a enxergar uma cidade que a gente olha, mas não
vê. Queria ser um caminho para mostrar o valor do que um gari faz”,
conta ele.
Diniz passou a fotografar os jardins que os trabalhadores de limpeza cuidam.
Mas ele próprio acabou notado e foi remanejado para a
assessoria de imprensa da companhia. Quando foi buscar cursos de
fotografia, sentiu vontade também de escrever.

Luciano Magalhães Diniz colou grau e se emocionou
Foto: Fotógrafo Luciano Magalhães Diniz/Facebook / Estadão Conteúdo
Após se matricular em Jornalismo na Faculdade
Sul-Americana (Fasam), ele se viu seduzido pela necessidade de um olhar
positivo sobre as garis.
“Elas se organizam, têm casa, ajudam a comprar o carro
da família, cuidam dos filhos e netos, das plantas e das praças e se
orgulham disso”, afirma Diniz. “Saem cantando pela rua, mesmo quando
alguém nega um copo de água limpa.”
Intitulada Sou Mulher, Sou Gari, a pesquisa
busca retratar a alma feminina, saber o que ela representa para sua
família e para a sociedade em geral e mostra como elas sobrevivem com o
salário que ganham.
“Ao passar por uma gari, poucos sabem que elas são
vaidosas e também estão cheias de sonhos e realizações pessoais com uma
história de alegria e muitas conquistas”, afirma.
Diniz espera que o TCC mostre para a sociedade não só a
importância do trabalho das garis, mas também que possa levar à reflexão
quanto aos hábitos de discriminação e preconceito para desmantelar o
machismo.
“Meu trabalho mostra um lado pouco conhecido dessas
profissionais, contado por elas mesmas. Também como elas encaram esse
trabalho com muita naturalidade, suas vaidades por trás do uniforme e a
independência financeira que conseguiram ao longo da caminhada”, afirma o
gari e jornalista.
Para o TCC, Diniz ouviu e fotografou 30 depoimentos
entre as 3 mil garis de Goiânia. As mulheres somam quase 2,7% do total
dos trabalhadores de limpeza urbana da Comurg.
Segundo a prefeitura, essas funcionárias percorrem em
média 3,6 quilômetros lineares por dia, com jornada de 44 horas
semanais, empurrando um carrinho com capacidade para 150 litros e que
pesa 22 quilo quando está vazio.
*Terra
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