5/02/2016 08:13
A nova edição do estudo "Analfabetismo no Mundo do
Trabalho" dá o mesmo diagnóstico de suas últimas edições, publicadas em
2009 e 2011: um a cada quatro brasileiros pode ser considerado
analfabeto funcional. A pesquisa, divulgada nesta semana pelo Instituto
Paulo Montenegro e a ONG Ação Educativa com base no ano de 2015, testou
cerca de 2 mil pessoas de zonas urbanas e rurais e verificou que nada
menos que 27% dos brasileiros continuam pertencendo a essa
classificação. O grupo engloba tanto aqueles completamente iliterados
quanto indivíduos capazes apenas de compreender textos simples, entender
algo de pontuação e reconhecer números familiares, em operações
matemáticas simples. As habilidades foram postas à prova na população de
15 a 64 anos. Apenas 8% dos pesquisados mostraram domínio e chegaram ao
nível máximo do teste, considerados “proficientes” em português e
matemática. Dos cinco níveis possíveis, a maior parcela, de 42%, está no
grau “elementar”, aqueles que estão aptos a trabalhar bem com a casa de
milhar e números negativos em matemática, compreendem e tiram
conclusões simples de textos médios, além de agrupar informações
textuais e numéricas de tabelas simples, por exemplo. “De 2001 a 2009
melhoramos o índice de 39% para 27% simplesmente pelo crescimento de
frequentadores de escolas e o natural aumento dos anos de estudo da
população”, afirma Ana Lucia Lima, diretora executiva do Instituto Paulo
Montenegro. “Daqui para a frente, não adianta permanecer na escola, mas
são precisas melhorias que aprimorem o ensino de fato”, afirma. “Nada
disso é novidade: trata-se de políticas de educação, de qualidade da
formação, de condição de trabalho do professor.” Se nada disso é
inédito, o grupo de pesquisadores priorizou a análise como forma de
contextualizar os efeitos dessa taxa de analfabetismo funcional no
mercado de trabalho do Brasil — daí o nome da pesquisa. Aplicada a este
universo, percebe-se que quanto maior o nível de domínio, cresce junto a
proporção de empregabilidade. Enquanto 47% dos analfabetos se diziam
trabalhando, 75% dos proficientes tinham emprego. Nos níveis médios, há
uma crescente, mas sem grandes saltos entre um e outro. Além do fato de
estarem ocupados, os níveis mais altos de compreensão linguística são
características de diretores ou gerentes de empresas. Enquanto 1% dos
analfabetos ocupam os níveis mais altos, são 9% dos proficientes.
Sabe-se, no entanto, que diretoria é um funil com pouca amostra.
Portanto, a diferença só dispara em cargos de gerência: são 4% contra
31%. “Um dado que surpreende, porém, é o fato de só 18% das pessoas com
cargos mais altos na administração pública terem alfabetização em nível
pleno. É pouco, pensando que são pessoas em cargo de referência e
tomadores de decisão”, diz Ana Lucia. “São eles que estão planejamento o
país de amanhã, mesmo com variáveis comprometidas para arquitetar um
planejamento.” Mantendo o perfil tradicional, atividades como trabalhos
por conta própria (41%), serviço doméstico (22%) ou pequena produção
rural (25%) são as principais ocupações de analfabetos que estejam
trabalhando. Entre os desempregados, 13% é analfabeto, enquanto 6% é
proficiente. (Exame)
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